sobre as viagens

até agora foram 4 "grandes" viagens, 3 pela América do Sul e uma pela Europa:

um
na primeira viagem, eu e o vinícius, meu companheiro na época, compramos uma passagem pra assunción, onde passamos dez dias e de lá, uma para buenos aires, onde ficamos por mais 20. foram 26 horas de viagem entre uma capital e outra, sendo que 6 delas foram paradas na fronteira. a gente aprendeu um bocado de coisas nessa primeira viagem. a primeira delas é que é muito fácil viajar. é só comprar uma passagem e reservar a estadia em um hostel via hostelworld (www.hostelworld.com), tem viagem pra todo bolso e pra todo gosto. em último caso, você passa o reveillón num hotel barato no paraguai, tomando champanhe-vinagre e comedo pizza da última pizzaria aberta do país.

a gente aprendeu também que essa disputa com os argentinos é coisa de brasileiros. fomos recebidos na fronteira literalmente de braços abertos por um policial argentino que não nos revistou porque nos descobriu brasileiros e falava: camburiú, camburiú... bienvenidos... assim a gente se apaixonou pelo país vizinho, pelas ruas de buenos aires, pelos portenhos todos. passamos 20 dias e nem assim fomos a todos os locais turísticos. viagem cansa, outra coisa que aprendemos, e não deixamos acontecer. a gente sabia que ia voltar lá e não tinha pressa pra ver tudo. foram dias rodeando o hostel, fazendo horas nos cafés, pesquisando o cortázar nas livrarias, comprando fruta na esquina, ganhando um lugar especial no restaurante pippo... isso é realmente conhecer um lugar - assim a gente pensou.  

dois
no ano seguinte, o vini resolveu passar meio ano pela argetina. no fim de 2006, fui encontrá-lo e a gente saiu bantendo perna, sem destino certo. a primeira passagem foi de buenos aires pra santiago, de ônibus, onde atravessamos os andes via carretera, a estrada. passamos o natal na cidade mais linda, valparaíso - nós e o caseiro; o reveillón no deserto do atacama, vendo os locais queimarem um boneco vestido de turista... depois um susto quando vimos que a bolívia era tão, tão linda (uyuni, o deserto de sal, todo o parque ecológico em que ele está e a louca la paz). no peru, as ilhas flutuantes de puno, a ida de trem até cusco (onde um café com torrada te custa $17, cuidado), machupicchu e o descanso final em lima, onde fomos pescados por um prato chamado ceviche, inesquecível. 

três
no final de 2008 eu estava sozinha. comprei a passagem até foz do iguaçú e fui parar a virada do ano em rosario, na argentina. eu queria conhecer melhor aquele país. de lá eu fui para o norte - tucumán, taffi del valle, amaicha del valle, cafayate, até salta - onde fui parar no meio de um tiroteio entre polícia e torcedores del central norte. este norte tinha virado lugar fácil dos turistas jovens e eu queria era um tempo pra mim, sabe. desviei pra mendoza, conheci vinhedos by bike, experimentando a produção local até ficar bebinha em cima das duas rodas. lá um cigano me assaltou e me jogou uma praga que infelizmente pegou. quando cheguei em buenos aires, estava com conjutivite, não saía dinheiro do banco, o metrô parou de funcionar comigo dentro enquanto eu esperava chegar no porto, pra pegar um barco até montevideo... onde cheguei, de noite. sem grana. consegui uma carona até o hostel, onde tive que chorar pra me deixarem dormir sem pagar aquele dia (o "sistema" do banco do brasil é inconfiável no exterior). mesmo de um olho só, montevideo me despertou alguma coisa que eu não sei dizer ainda, sinto que preciso voltar pra lá. no fim da mandinga do tal cigano, fui parar num alagamento em pelotas (rio grande do sul) no caminho até porto alegre. por causa das 12 horas paradas lá, perdi o avião e demorei um pouco mais pra chegar em casa. mas eu cheguei. e já quero voltar. 


quatro
meus pais resolveram passar o aniversário de 30 anos de casamento em uma excursão montada por um padre, para uma peregrinação por lugares sagrados na europa e convidaram a minha avó, beirando os 80 (com ânimo de 15). no fim eu fui convidada para cuidar dela, que eu adoro tanto e não tenho muito contato, porque moramos a mil quilômetros de distância. apesar de ter que andar de lenço amarelo e seguir um protocolo turístico, passar 20 dias ao lado da vó penha foi o maior presente de todos. um momento que tive pra fazer a viagem como eu queria foi uma noite livre em paris, em que peguei o metrô sozinha e fui para a torre eiffel, de onde assisti a um show de fogos de artifício em comemoração à queda da bastilha.. a inviabilidade de voltar para o hotel de metrô (porque havia mais de um milhão de pessoas utilizando o sistema) me fez passar a madrugada sorteando meus passos: direita, esquerda ou avante - olhei pra trás a medir a distância e vi a torre diminuída. me perder por esta cidade foi um troço que se amarrou ao meu espírito. outros lugares nesta peregrinação me explodiram também, de um outro jeito. a devoção é alguma coisa que a gente respeita só de ver, quando mais ela brota na gente. aprendi com a minha avó a festejar os santos - ela na sua folia adolescente e eu no meu silêncio, admirado.

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as outras fotos foram tiradas em viagens menores, não menos importantes, e também na minha cidade, campo grande, mato grosso do sul. um dia eu comprei uma máquina grande, mas são as pequenininhas que me fazem amar a fotografia. são delas, as pequenininhas, as fotos desse blog. os textos eu escrevo agora, nisso que eu disse "reimpressão dos meus instantâneos". essas imagens uso pra me lembrar desses momentos todos, pra perceber de novo e pra reinventar. é justo..