3.1.13

linho // roma, itália, jul2011
antes de sair de casa pensou duas ou três vezes sobre a roupa que vestia. se era cinza ou se tinha listra, quantos botoes para fechar. precisava combinar com os sapatos, era fato que só tinha esses, àquela hora. duvidou até na calçada, a meio passo da rua, mas mudou o rumo do pensamento quando teve que decidir o seu ponto de saída. bem ali, as mangas do paletó pesaram seus ombros e as calças escondiam as gotículas escorridas dos joelhos. a fina sombra daquele poste marcava o tempo de aguardo no seu bronzeado involuntário. 

em roma, o verao dificulta a gala de quem espera.  


2.1.13


santidade // santiago de compostela, espanha (galiza)  jul2011

quem é mais divino: a obra do homem ou da terra?
tem gente que acusa um matinho qualquer. 
eu acredito em todas as superstiçoes: a de deus, a da natureza e da arte.

nunca fui de duvidar das coisas que brotam.

29.12.12

toca // paris, frança jul2011
chegamos bem cedo pra te ver e contamos os dias para estarmos aqui. agora me diga: onde estão as chaves?

29.3.12

íngreme // lourdes, frança jul2011

as pernas que sobem a ladeira são sempre voluntárias.

13.12.11

flutuante // cumbuco, ceará, brasil, out2011
os pés suspensos no ar estão atracados em uma latitude. o pensamento, por outro lado, aponta o horizonte. 


onde está o capitão?

12.10.11


prego // roma, italia, jul2011
gastamos as solas atrás de massa com mariscos. as solas da minha avó eram mais gastas, choravam os quilômetros a pedido da neta, eu mesma. comeu outra coisa, ela mesma, ao fim. mas o lugar primeiro era fechado para o almoço, daí que atravessamos a rua, os desistentes. achamos a família atrás do balcao gritando a sugestao do nosso cardápio. tivemos que brigar, brigar de um jeito amoroso pra dizer o que queríamos, se nao era o que achassem melhor pra gente (os caras de desistentes), exaustos no nosso vigor. conquistamos os mariscos naquela luta, a família perdeu sorridente atrás do balcao - entraram a preparar os nossos pratos. da vó foi bolonhesa. um dedo para o táxi, na volta.

30.9.11


pesca // lisboa, portugal, jul2011
estávamos ao lado da Torre de Belém, de onde saíram as caravelas, primeiro mar à vista dos descobridores. o que se coloca de isca neste ponto de fuga? o que se pode puxar? 

a espera do mar adia a ânsia pelo seu conteúdo, pensei.

10.9.11


os meninos // porto, portugal, jul2011
exercitam a filosofia básica do rio.


4.9.11



rayuela // paris, frança, jul2011
horacio trança as pernas nas últimas jogadas do jogo da amarelinha;
confunde a pedra lançada com aquelas que atirou em maga e se espalharam pelo chao riscado.. agora não sabe pra que casa precisa saltar.. desequilibrou na medida dos números pares, o saci; tentou chegar ao céu tombando para a frente.

as mãos alcançam o seu destino, mas é com os pés que se chega ao fim. 



31.8.11


aguarda// roma, itália, jul2011
tua bravura seca.

21.8.11


cartilha // lourdes, frança, jul2011
quantos séculos para aprender o que nao se ensina:
nao ser humano.
rezemos aos santos, nas impossibilidades.

14.8.11


mapa // paris, jul2011
o corpo sabe e anuncia. a vó viu a foto e nao reconheceu o anúncio, achou o corpo mais velho que o espírito, pediu desculpas, a vó, pelo conhecimento adquirido. ô, vó! deixa eu mirar teus caminhos.

11.8.11

chez toi // paris, jul2011
e a famosa veio me comprimentar (assim, com "o" errado). mediu meu tamanho pela sombra no Sena, superestimando minha presença com aquele sol inclinado do começo da noite (é verão). e fui eu que não imaginei seu tamanho. a bondosa é gentil com visitantes, faz a pompa crescer só de olhar pra ela, só de saber que a viu. daí que eu entrei debaixo da sua saia, com ar de intimidade:

das suas frestas vazou o céu em mim.

24.6.11


abierto// bolívia, jan2007
venga, se senta, te levo no bolso
da minha calça
quantas camadas até que você
se saia
se senta
meu diafragma é fotocópia
atira a discórdia 
se o que levo é a tua alma
ou uma camada
da tua saia
venga,
se senta aqui comigo.

8.6.11


povo// isla del sol - lago titicaca, bolívia, jan2007
pesca, planta e pasta. 
passeio, percebo e publico. 
o porquê.

25.5.11


contratempo // desfile da escola Igrejinha, campo grande-ms, brasil, fev 2004
fevereiro se joga nos braços do samba
março é de vez em quando
e eu que me descubro em setembro
vivo do choro de não ser bamba

19.5.11

legenda // aldeia água branca, ms, abr2008
não é óbvia a demarcação?

15.4.11


II // bonito, ms, brasil, out2010
já disse que tem um mundo lá embaixo? 
tem o céu. 

28.3.11

tem um mundo lá embaixo // salta, argentina, jan2009
se te importa o que vê, se te importa
não mergulha porque não sabe o que é
nunca vai saber.
tem um mundo lá embaixo
tem você.

31.1.11


acompanha com molho // campo grande ms brasil, abr2007
eu te cru, ainda vivo. sua textura.

8.1.11

fronteiriço // corumbá, ms, brasil, out2006
raiz é feito intruso, entranha e não vê chão
não sabe o que é vizinho
penetra sem carimbo, sem ser visto de entrada
raiz é feito o que se sabe
uma penetração

28.12.10

romaria // assunción, paraguay, dez2005
ave maria, pai nosso e santo anjo, minha mãe me ensinou. deve ser que sair de casa muda o espírito, tem que avisar os santos. quem sabe a gente chega bem. quem sabe a gente volta outro. mais abençoado.

22.12.10


autorretrato // ilha do mel, brasil, fev2003
ego é contraluz.

12.12.10


"qual estátuas vestidas de suor" // campo grande ms brasil, 2004
em qual momento decide ficar?
a cidade não vive em monumento.
tem que usar. tem que suar.

*foto da série Campo Grande tem Ginga. Bailarina: Nara Hortência

6.12.10

mira //deserto do atacama, chile, dez2006
no deserto, o chão finge que é chama
e lhama finge que é chão.
chama a lhama e ela não vem,
finge que é deserto.
uma miragem.

25.11.10

põe na conta//mendoza, argentina, jan2009
te quebro as regras e interrompo seu trânsito, seu tráfego
paro e dou um trago em lugar fechado
não pago a multa nem forçado
sem culpa
fujo sentado, no meu carro
o turbinado

27.9.10

renda // amaicha del valle, argentina, jan2009
qual cidade viva
sem você?
as tuas sombras.

21.9.10

al final // montevideo, uruguay, jan2009
eu acenava e só
e sempre, adeus
era o meu jeito esse
o de não ir embora

16.7.10

ticket // rosario, argentina, jan2009
cão que ladra não morde
cão que arte não morre

21.6.10


obra // campo grande, ms, brasil, out2006
se eu ando pela cidade
e o meu afeto te traz comigo,
então o que meu olho enxerga
é mais do que concreto e porta,
parede em suspensão:
é você tomando forma,
somos nós, em construção.

*foto da série "campo grande tem ginga". bailarina: júlia aissa.

25.2.10

domingo // rosario, argentina, jan2009
o dia era esse cara bundão que não levanta do sofá
e o resto resolveu aproveitar a folga

abajo // rosario, argentina, jan2009
e de que lado da briga você está?

10.1.10

cabalgata // cuzco, peru, jan2007
ardentes em paciência, despimos as armas e nos abraçaram as armaduras. a aurora rompeu, rimbaud, entramos nas esplêndidas cidades. agora, o que?

31.12.09

jigsaw puzzle// buenos aires, jan2009
não éramos dois? não éramos um? não éramos sorte e luz e boom?
não éramos buenos aires e valpo, não éramos bem de perto, zoom?
não éramos sortudos, boludo, não éramos soldados você e eu?
não éramos um prato quente, não tínhamos um bom apetite?
não éramos ingênuos e crudos, cézamo, abra-te e me diz o qué pasó.

12.9.09

paira // florianópolis, brasil, jul2007
o mundo é cheio
o fundo é meio
imundo o dia quando vai embora,
um pouco encardido

28.8.09

esvazia // rosario, argentina, jan2009
tantos cavalos pra montar e fugir
e as armaduras pra lutar as nossas guerras
as nossas armas
baby, o mundo é um carrossel

9.8.09


eu fugiria// cafayate, argentina, jan2009
direita a
esquerda b
direita b
esquerda ah,
s'eu tivesse'quatro'patas'e'um'cara'd'outr'espécie
na'm'nha'frente'pra'dizer'que'a'barra'ta'limpa...

4.8.09

madrasta // montevideo, uruguai, jan2009
de corpo fechado, montevideo me abraça
não há fresta que me deixe entrar
eu não sou ar, sou água
eu não sou ar
só e lágrima
não vou te derrubar com o meu soluço
me deixa chorar aí dentro

3.8.09

alice // taffi del valle, argentina jan2009
estava de lado e ouviu, vai!
correu ao encontro da porta e saltou
sem medo de prejudicar a pele e ossos
caiu na escadinha
olhou para o motorista que dizia que não era tarde
até que arde
sentou pra seguir seu rumo, uma contradição.

18.3.09

prorrogação // cafayate, argentina, jan2009
põe no ângulo que é gol
a memória empata com a ram
assim a partida dura
mais que o duro ir embora
desses lugares dentros
drible no tempo